quarta-feira, 24 de abril de 2013

a vida gira e gira muito

Olá, depois da emoção ter diminuído um pouco, do tempo ter curado
algumas feridas, em fim, da calma ter voltado a mim, resolvi escrever.
Faço isto, com o sentimento de quem quer desabafar, acabei de falar que
a emoção já tinha passado, mas o tom deste meu relato é realmente de
desabafo, de uma pessoa centrada, eu espero, mas com toda certeza de uma
pessoa que tem muito a dizer, e que melhor, tem muito a falar.
na última sexta-feira, eu fui até o hospital São Vicente de Paulo,
situado no bairro da tijuca no Rio de Janeiro. Meu objetivo de ir até lá
era de realizar um exame, o teste de esforço. Pra quem não sabe, este
consiste, numa pessoa correndo numa esteira ligado por alguns fios, ou
seja, o indivíduo é monitorado enquanto o realiza.
Para mim, esta atividade não tem problema algum, visto que, corro
todos os dias em esteira, a única coisa que ficava pensando é que este
exame é muito cansativo e que quatro horas depois eu tinha treino de
goalball para ir.
Entrei na sala do médico e a enfermeira quando me viu cego, logo
disse: acho que a doutora não fará o exame em você, ela não faz exame em
cegos.
Ao ouvir isto, fiquei bem chateado, comecei a me lamentar um pouco,
argumentei que sou atleta, que já realizei o mesmo exame em várias
outras oportunidades e que a esteira é um aparelho ao qual estou bem
familiarizado, que corro no mesmo todos os dias. A moça parece ter
engolido minha história, pois quando saiu da sala me pareceu até um
pouco convencida.
Sentei numa cadeira, sem camisa, com o peito depilado e com um monte
de coisinhas presas em mim, para esperar a médica.
Ali parado, ouvi uma mulher dizendo: Eu não faço e acabou.
Minha irmã ouvindo aquilo, me perguntou: será que é a médica?
Calmamente eu disse que não deveria ser, que era pra ela ficar
tranquila que tudo daria certo.
Minutos depois entrou no ressinto uma mulher completamente
destemperada, a doutora Lúcia Cruz Lion. Com um tom de voz auto, falou
que ela não iria proceder o exame em mim.
Espantado, indaguei o motivo. Para a minha surpresa, ela me falou
que não faz este exame em cegos e que isto era um direito dela.
Argumentei que sou atleta, que fui a Londres, que conheço o exame,
que faço esteira todos os dias. Mesmo assim a doutora se mostrou
irredutível. afirmou que não iria realizar o procedimento e ponto final.
Fui embora dali, com um sentimento tão ruim dentro do peito que não
consigo descrever o que sentia. Acho que depois de muitos anos, o
preconceito voltou a tocar fundo em mim.
Me dirigi até a ouvidoria do hospital, lá fui muito bem atendido,
ouvi muitas palavras bonitas. O que lamento muito, é que eram todas
mentiras. O hospital perto de mim dizia o tempo todo que eu estava
certo, que o que a médica fez foi um grande absurdo. Mas quando as
mesmas pessoas foram procuradas pela globo esporte ponto com, o hospital
disse está do lado da médica e que o exame não foi realizado por motivos
de segurança. Só não consigo entender qual é o risco que eu corro em
cima de uma esteira. Acho eu que o risco de queda é o mesmo de uma
pessoa dita normal.
neste momento que percebi como os amigos são importantes. Cada
pessoa que sabia da história fazia um pouco para me confortar e para
buscar justiça, agradeço a todos vocês de coração, valeu mesmo.
procurando pela internet, até hoje não consegui achar nenhuma razão
para a recusa da médica e do hospital, muito pelo contrário, em todos os
órgãos que busco, vejo protocolos de como se atende um atleta
paralímpico. como é o exemplo da sociedade Brasileira de Cardiologia.
hoje eu gostaria de saber somente o porque da recusa desta senhora.
Depois mais calmo eu juntando os fatos, percebi uma coisa que poucas
pessoas sabem. Eu quando fiquei doente, que tive meningite, estudava no
colégio São Vicente de Paulo, e hoje quando fui no mesmo complexo
procurar saúde, me foi negado pela sequela lá do passado. como a vida é
engraçada né? Ela é ou não é uma grande roda gigante?

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